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Frases Célebres

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Filhos para o mundo

Recentemente li, em fonte de que sinceramente não me recordo no momento, uma frase que me agradou profundamente, pelo que tem de pertinente e atual. Dizia: “Ao invés de se preocupar em deixar um mundo melhor para seus filhos, preocupe-se em deixar filhos melhores para o seu mundo.”
Minha experiência de professor me deu a senha para adentrar o sentido mais profundo dessas palavras e vou me permitir tecer algumas considerações sobre o assunto:
Minha geração viveu um mundo de transformações rápidas, de conflitos sociais, de grandes angústias, mas também – e principalmente – de muita esperança num futuro mais acolhedor. Obviamente nós também contestávamos, tínhamos nossos pequenos deslizes, cometíamos nossos pecadilhos, mas havia um fator de equilíbrio a nortear nossa conduta e a nos preservar da insensatez absoluta: tínhamos um quadro muito claro de valores.
Para mim e para tantos outros que conheci, a figura dos pais representava, acima de tudo AUTORIDADE. Lembro-me de que, quando meu pai dizia “não”, eu podia emburrar, chorar, reclamar, mas era não, e pronto. Claro que, paralelamente a isso, eu tinha, na medida certa, carinho, atenção e compreensão, mas não tinha todos os artigos de consumo que desejava e até mesmo os que não chegava a desejar. Estranhamente, isso não fez de mim um ser humano frustrado e incompleto; isso não me atirou no mundo do crime, nem me inspirou ideias suicidas, antes, ensinou-me os conceitos de respeito, reconhecimento e gratidão.
Os pais da minha geração tinham na escola uma aliada a fixar normas de conduta e a estabelecer os cânones da educação formal que representava o passaporte para uma vida de trabalho e dignidade, por isso, para nós, a figura do professor representava acima de tudo AUTORIDADE. Não me recordo de qualquer professor que tive preocupado em tornar suas aulas mais lúdicas e agradáveis, para converter a escola em uma experiência prazerosa para os alunos. Preocupavam-se em ensinar, porque a motivação que tínhamos vinha de dentro para fora e estava intimamente ligada a esse quadro de valores que eles também ajudavam a construir.
Estranhamente, o comportamento pedagógico intransigentemente acadêmico de meus mestres não produziu em mim uma repulsa pela escola, nem um desejo atávico de destruição do “status quo” e retorno à barbárie. Ao invés disso, me fez ver o conhecimento como uma meta a ser atingida no grande desafio de superação da ignorância. Como consequência, o que eles me ensinaram, eu aprendi e isso me fez mais homem e mais humano.
Hoje também sou pai e me surpreendo a buscar para os meus filhos uma escola que ainda leve a sério a ideia de que o aluno deve aprender, para ser aprovado; uma escola que tenha uma filosofia centrada em ensinar e não em divertir. Surpreendo-me defendendo sozinho a atitude de professores que ousam cobrar resultados de seus alunos, enfrentando nesse mister legiões de pais furibundos, fazendo coro com as queixas medíocres de filhos irresponsáveis, mimados e parasitários.
Podem me tachar de saudosista, de antiquado, ou de qualquer outro adjetivo do gênero, mas eu me recuso a tentar entender a lógica psicopata que leva esses meninos e meninas a se dividirem em tribos e se auto intitularem punks, darks, emos e outras aberrações do gênero, andando esfarrapados ou vestindo-se de preto, calçando grossos coturnos e usando agasalhos pesados em pleno calor dos trópicos.
Eu me recuso a ser complacente com a imundície sórdida das pichações, da mesma forma que me recuso a ensinar para meus filhos que grafite é arte, porque meu conceito de arte transcende em muito a mediocridade insana de rabiscos disformes e mal acabados.
Tachem-me de conservador, mas na minha geração as mães não se sentiam emocionadas porque as filhas de dez anos disputavam com as coleguinhas quem perderia a virgindade primeiro, nem ajudavam a escolher a lingerie que a filha adolescente levaria para dormir na casa do namorado da semana. Garotas não tinham rankings baseados na quantidade de homens que haviam passado por sua cama e, provavelmente por isso, pais ensinavam a seus filhos que respeitassem as filhas alheias e assumissem como homens tudo o que fizessem.
Tachem-me do que quiserem, mas eu continuarei a ser pai para meus filhos, continuarei a exigir deles que estudem para aprender, continuarei a exigir deles que respeitem seus professores, continuarei a exigir deles que cultivem uma atitude pacífica e ordeira, continuarei a exigir deles que se vistam de forma adequada, continuarei a exigir deles que tratem as mulheres com respeito e a todos com dignidade. É meu legado para eles, é meu legado para o mundo.

Um comentário:

  1. É, meu amigo, não é em vão que Kardec estabeleceu a classificação de mundo de terceira ordem para este planeta. Por algum tempo ainda vamos conviver um pouco com pessoas de menos noção educacional que nós.
    Um abração do Júlio.

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