A
Concepção de Deus – Salvacionismo x Evolucionismo.
Erroneamente as
religiões e até mesmo a ciência tem colocado a religião no campo dos artigos
ligados exclusivamente à afetividade do ser humano. Isso não é correto;
mormente no estágio de desenvolvimento intelectual em que se encontra a
humanidade.
Essa equivocada visão,
inclusive, tem servido de instrumento para manipuladores das crenças alheias se
manterem em posições de destaque, locupletando-se em nome de Deus e de uma
suposta fé. Isso porque, se, por um lado, as pessoas têm pouco controle sobre
sua afetividade, por outro lado, esse campo é bem mais fácil de ser manipulado
por terceiros. A emoção é um fenômeno produzível.
É necessário que se
façam algumas distinções, a fim de que bem se possa entender o que se quer
dizer ao afirmar-se que a religião não se encontra no domínio exclusivo da
afetividade:
Primeiramente deve-se
distinguir o sentimento de Deus da convicção religiosa. O primeiro é inato.
Sabe-se que desde os primórdios o homem manifestou o sentimento de uma força
superior capaz de controlar seu destino. A convicção religiosa, contudo deve
decorrer de um profundo ato de reflexão e passar sempre pelo crivo da razão. Em
outras palavras: está no domínio cognitivo. Quando não é assim, enveredam-se
quase sempre, alguns pela indiferença, outros pelo fanatismo.
A fim de dirimir
qualquer conflito, deve-se assinalar que o ateísmo não é uma manifestação inata
como a crença. O ateísmo decorre necessariamente da reflexão e de um argumento
materialista que, na mente de alguns, se sobrepõe ao sentimento inato de Deus.
Em outras palavras: ninguém nasce ateu, mas muitos, fundados em critérios
racionais, sufocam a tendência a crer.
Tudo considerado,
pode-se afirmar, numa perspectiva racional, que o cerne, o núcleo, de qualquer
convicção religiosa é Deus. A prática de uma religião só terá sentido para
qualquer pessoa, se essa pessoa acreditar em Deus
Assim é válido afirmar
que, ao buscar uma religião para si, o indivíduo deve se propor duas perguntas
fundamentais. A primeira é: “eu acredito em Deus?” Em sendo afirmativa a
resposta, vem então a segunda: “se acredito, como eu O concebo?”.
Observe-se
que existe uma diferença profunda de natureza nas duas perguntas. Ao se
perguntar se acredita em Deus, o indivíduo está consultando sua natureza
emocional, seus impulsos imotivados inatos. Em contrapartida, ao se perguntar
como O concebe, o indivíduo está consultando sua natureza racional, suas
concepções filosóficas de mundo. É razoável, então, afirmar que da primeira
pergunta provem a decisão de ter uma religião, mas da segunda decorre a decisão
sobre que religião será essa.
Considerando
o leque das religiões hoje existentes de modo significativo no planeta – e
ressalvada a hipótese de haver algumas que eu desconheça completamente –
pode-se classificar todas elas – tendo por critério a concepção de Deus – em
salvacionistas ou evolucionistas.
A
opção consciente do indivíduo por uma das duas tendências decorre necessariamente
de sua concepção de Deus, pois é Ele quem está no centro de todo o contexto
religioso. Ninguém decide praticar uma religião salvacionista, se não conceber
um Deus autocrático, da mesma forma que ninguém opta por uma religião
evolucionista se não concebe um Deus justo.
Não
é objetivo deste artigo confrontar as duas tendências, nem mesmo defender uma
ou outra. Até, pelo contrário, diante do que aqui se diz, fica mais patente a
inutilidade das contendas religiosas e das tentativas que muitas vezes se faz
de converterem-se as pessoas. A escolha religiosa decorre de uma opção
filosófica diante da vida e uma efetiva conversão demandaria, antes de mais
nada, uma profunda transformação dessa opção filosófica.
KARDEC, Allan. O céu e o inferno.58ª ed. Brasília, FEB, 2005
________ O livro dos Espíritos. 1ª ed. comemorativa do sesquicentenário. Brasília. FEB, 2006
MOTA, Eliseu f. Júnior. Que é Deus. 2ª ed. Matão SP. Editora O Clarim, 1998.
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