E por estarmos em junho, lembrei-me de
um assunto que vem me incomodando há algum tempo e que, por se situar no campo
das coisas abusivas de nosso tempo, merece destaque nesse espaço.
Quem acompanha meus artigos e me conhece
sabe de minha profunda aversão ao fanatismo (embora eu tenha o Botafogo em
minha vida, mas isso é outra história) e a todas as mazelas a que ele
inexoravelmente conduz. Pois é de algo assim que se vai tratar aqui.
Meu filho mais velho, quando ainda
criança em fase de pré-escola, por iniciativa e teimosia da mãe, foi tirado da
escola em que estudava – que tinha sido escolhida por mim – e levado para outra
escola que eu então desconhecia e cujo nome vou obviamente omitir.
Em seu primeiro ano na dita escola, por
volta do final do mês de junho, aconteceu uma festa intitulada “Festa das
Nações”, com características muito estranhas, onde cada turma se encarregava de
trabalhar as comidas típicas e outras particularidades de um determinado país.
Eu estive na festa, achei-a muito
estranha, de bastante mau gosto e indaguei logicamente a razão de se estar
promovendo tal evento, justamente no momento em que se deveria estar realizando
uma festa junina. A resposta foi incisiva: “os donos da escola são evangélicos
e, por isso, aqui não se realizam festas juninas.”.
Na época achei aquilo um tanto
repugnante, mas deixei passar, até para não dar azo à minha fama de
encrenqueiro. O problema é que, com o tempo, percebi que aquilo não era um fato
isolado, mas uma tendência que começava a se firmar em inúmeras instituições de
ensino, inclusive oficiais, por conta do “politicamente correto”.
Em episódio bem mais recente, estava
matriculando meu filho caçula em uma nova escola, quando fui informado de que
no mês de junho acontecia a festa das nações. Perguntei então se a escola era
evangélica e obtive como resposta que não, mas que como havia muitos alunos
evangélicos, se se fizesse uma festa junina essas famílias não iriam
prestigiar. Meu filho foi matriculado em outra escola.
Ora, todos sabem que eu
não sou católico, por isso não tenho qualquer motivo para fazer apologia aos
artigos de fé do catolicismo. Mas eu sou brasileiro. E, como um brasileiro
inteligente, entendo que meu país teve uma colonização católica e que as
tradições de nosso povo em grande parte derivam da orientação religiosa da
Igreja Católica. Posso escolher minha religião, mas não posso ignorar minhas
origens. Festa junina, assim como carnaval, samba e futebol estão entre as mais
legítimas e representativas manifestações de brasilidade. Eu, embora não
aprecie carnaval, por exemplo, jamais pensaria em suprimi-lo, pois sei que sem
ele o Brasil perderia identidade.
Além disso, já há muito
que os festejos juninos perderam a característica de comemoração em honra de
Santo Antônio, São João e São Pedro, para integrarem o folclore do país.
Como manifestação
cultural, a festa junina remete a nossas origens, ao arraial originário de onde
floresceu toda a civilização brasileira. Por isso entendo que aboli-la em nome
do fanatismo religioso é um atentado contra a História e a tradição. Pior que
isso, substituí-la por alguma pantomima de características “ianquizantes” é uma
agressão à soberania, não do Estado, mas do povo brasileiro.
Entendo que as
autoridades deveriam produzir lei obrigando toda e qualquer instituição
educacional do país (as privadas funcionam sob concessão do Estado) a preservar
manifestações assim entendidas como marcos da cultura e da tradição
brasileiras.
No mais, Viva Santo
Antônio! Viva São João! Viva São Pedro! Vou comer um bolo de mandioca (Mané pelado)
e tomar um quentão. Êee trem bão çô!
Nenhum comentário:
Postar um comentário