Agosto é considerado pelos supersticiosos como um mês sombrio, propenso ao acontecimento de grandes tragédias. Não posso dizer que creio ou descreio nessas tendências, mas não se pode negar que estatisticamente o mês é marcado por grande número de acontecimentos estranhos e bizarros. Não por acaso (ou talvez seja), agosto é o mês de Jack, O Estripador.
Muita gente com certeza já ouviu falar, mas, na realidade, muito poucos sabem alguma coisa de verdadeiro sobre esta personagem lendária; tão mais lendária, quanto ainda permaneça em mistério absoluto a sua verdadeira identidade.
Jack foi o primeiro “serial killer” a ser alardeado pela mídia e – talvez por isso mesmo – é hoje o mais conhecido do mundo
Um serial killer, ou matador em série, para quem não saiba exatamente o que seja, é um criminoso que pratica homicídios bizarros, temperados com aspectos de extrema crueldade, contra um mesmo padrão de vítimas (geralmente mulheres) e seguindo a um determinado ritual
O cenário é a cidade de Londres, o ano é 1888. Uma Inglaterra vitoriana, de sociedade profundamente conservadora subitamente começa a ser palco de crimes cruéis, praticados contra prostitutas.
Tudo começou no dia 31 de agosto de 1888, quando o corpo de Mary Ann Nichols, 43 anos, apelidada de Polly, foi encontrado no terreno em frente à entrada de um estábulo em Buck's Row, no Distrito de Whitechapel, uma das subdivisões do que, entre nós brasileiros, corresponderia à Região Metropolitana de Londres.
A vítima sofreu dois cortes profundos na garganta e seu abdômen sofreu várias incisões, tendo sua parte posterior sido parcialmente arrancada.
A brutalidade do crime chamou a atenção da polícia e também da imprensa que deu ampla repercussão ao fato.
No dia 8 de setembro de 1888, às seis horas da manhã, no quintal de uma casa em Hambury Street, foi encontrado o corpo mutilado de Annie Chapman, 47 anos, apelidada de Dark Annie, que teve dois cortes profundos na garganta e o abdômen aberto, com a extração do útero.
A proximidade e a semelhança com o crime anterior apontavam para um mesmo autor e, diante disso, a imprensa principiou um alarde ainda maior em torno do fato. Estava nascendo um “mito”.
Na madrugada do dia 30 de setembro de 1888, à 1:00 da madrugada, no chão da Dutfields Yard em Berner Street, Distrito de Whitechapel, foi encontrado o corpo de Elizabeth Stride, 45 anos, apelidada de Long Liz. A vítima trazia uma incisão completa no pescoço e a causa da morte foi perda de sangue, devido ao corte na artéria principal.
Diferentemente das outras duas, Liz não apresentava incisões no abdômen, o que, a princípio, lançou dúvidas sobre a autoria, mas, posteriormente, surgiu a hipótese de que o assassino teria sido interrompido durante a execução do crime, vindo a deixar o ato inacabado.
Naquela mesma noite, na Mitre Square, em Londres, foi encontrado o corpo de Catherine Eddowes, apelidada Kate, de 46 anos, morta com duas incisões profundas na garganta. A vítima teve o abdômen aberto com um corte longo e irregular, por onde foram extraídos o útero e o rim esquerdo.
Posteriormente a polícia recebeu – em uma das muitas cartas que lhe eram endereçadas frequentemente por pessoas que se diziam o assassino – a metade de um rim humano que se acredita ser o que foi retirado dessa vítima.
Na noite de 9 de novembro de 1888, num quarto residencial na Dorset Street, em Spitafield, foi encontrado o corpo mutilado de Mary Jane Kelly, de 25 anos, apelidada Ginger.
Ginger teve o corpo terrivelmente mutilado (incluindo o rosto, que foi desfigurado). A morte se deu em virtude de sua garganta ter sido cortada até a coluna vertebral. Seu abdômen foi completamente esvaziado de órgãos e até mesmo seu coração foi retirado..
Essas cinco vítimas ficaram conhecidas como as cinco canônicas, por serem as únicas definitivamente atribuídas a Jack. Ainda se acredita que outras seis mulheres tenham sido abatidas por ele, mas há diferenças no modo de agir que deixam dúvidas quanto à autoria, sendo certo, portanto apenas as cinco citadasAinda hoje, passados 123 anos do primeiro crime, o mistério persiste e existe um grande número de estripadorólogos, espécie de detetives amadores que estudam o caso e procuram encontrar a identidade de Jack.
Possivelmente o mistério jamais será resolvido, porque o tempo já se encarregou de apagar as evidências mais sensíveis, aquelas que poderiam, nos dias de hoje, conduzir a uma identificação positiva.
Digo nos dias de hoje, mas não posso deixar de ressaltar uma curiosidade: o princípio básico do procedimento investigativo criminal não mudou quase nada, dos dias de Jack até aqui. A diferença fundamental – e que pode realmente fazer a diferença – é que os avanços científicos tornaram possíveis algumas coisas que naquela época não existiam sequer na ficção.
Há, entretanto, uma mulher que afirma categoricamente haver descoberto o mistério e a identidade do assassino, baseada exatamente nos meios científicos atuais. Trata-se da americana Patricia Cornwell, de 47 anos, criadora do Instituto de Ciência e Medicina Forense da Virgínia (EUA).
Patricia, que é escritora de romances policiais, conduziu uma longa investigação na Inglaterra e, com base em exame de DNA mitocondrial de material contido nas cartas que o assassino enviou à polícia, somado a uma série de outras evidências, como exames grafológicos e até análises psicológicas, afirma que Jack o estripador era o pintor alemão Walter Sickert, que, na época, chegou a figurar na lista de suspeitos da polícia.
Embora o trabalho de Patricia tenha sido muito criterioso e detalhado, ainda há margens significativas de dúvidas, porque no caso do exame de DNA, por exemplo, como o corpo de Sickert havia sido cremado e os familiares do pintor se recusaram terminantemente a colaborar com as investigações, o teste foi feito a partir de duas cartas, uma enviada para a polícia, supostamente pelo assassino e a outra enviada pelo próprio Sickert.
Embora isso não tenha ficado claro para mim , ela deve ter feito o DNA das fibras do papel e, nesse caso, embora a idéia seja bastante inteligente e lógica, não nos dá uma margem de certeza suficiente.
De qualquer forma, o fato é eloqüente na demonstração do interesse e do fascínio que o caso desperta ainda hoje e não é demais ressaltar que alem de Patricia existem muitos outros escritores com livros publicados trazendo também potenciais suspeitos de haverem sido Jack.
Aparentemente, como Jack conseguiu se furtar à órbita da justiça humana e foi prestar contas somente a Deus, talvez seja melhor que não se saiba sua identidade, para que muitos continuem a se divertir, tentando solucionar o mistério.
Nenhum comentário:
Postar um comentário