Alguns que me conhecem, se lerem esse artigo, irão se lembrar de minhas previsões. Tenho certeza disso. Explico-me:
Alguns dias atrás o país foi sacudido pela história de um menino de dez anos que atirou na professora e, logo em seguida, suicidou-se com um tiro na cabeça.
Esse fato lamentável, dramático, infeliz veio se somar a um grande número de outros fatos de igual dramaticidade que vem repetidamente abalando a sociedade. Curiosamente, todos eles envolvendo o ambiente escola.
O problema não me surpreende nem um pouco. Ao contrário, vem confirmar o que eu já preconizava muitos anos antes.
Lembro-me claramente de que em 1996, durante um conselho de classe na escola em que eu trabalhava (uma escola situada no Plano Piloto de Brasília), devido a alguns acontecimentos que naquele momento vinham aborrecendo os professores, eu fiz algumas colocações e concluí com a assertiva de que iria chegar um tempo em que professores seriam mortos dentro da sala de aula, caso nada fosse feito para mudar alguns comportamentos e alguns valores de crianças e adolescentes.
Naquele momento fui muito criticado por colegas que se encontravam na reunião (principalmente pelas colegas mulheres que sempre insistiram em dizer que os problemas da sociedade tem que ser resolvido com amor) e chegaram a me dizer que eu não tinha o perfil de professor, que eu deveria procurar uma outra profissão.
Não me incomodei com as críticas precipitadas e irrefletidas que recebi naquela ocasião, até porque sempre confiei profundamente em minha capacidade de análise da conjuntura e a História vem mostrando que eu estava certo. Sei que muitos dos que naquele momento me criticaram, se me encontrassem hoje, com certeza tentariam se redimir.
Minha previsão naquele momento nada teve de sobrenatural, de fantástico, ou mesmo de extremamente brilhante. Na verdade bastava naquele momento uma certa capacidade de análise, de senso lógico, para perceber que caminhávamos para uma situação caótica. Presentemente já estamos nela e, se a sociedade não abrir os olhos, em mais algumas décadas estaremos mergulhados num estágio de barbárie, algo como um pós-futurismo-neo-barbarismo.
Nossa sociedade se esfacela a cada dia. Homens e mulheres vivem em universos completamente paralelos, não compartilham interesses comuns (exceto o sexo) e as diferenças que deveriam ser vistas como fator de complementaridade e consequentemente de coesão, tornam-se, cada vez mais, fatores de conflito. O diálogo inexiste, o individualismo prevalece sobre tudo e a família é cada dia mais um conceito, uma abstração.
O ambiente-escola, por sua vez, até para justificar sua função institucional de existência, pela consecução do objetivo, imprescinde de uma disciplina mínima que torne possível a convivência e a coexistência dentro do espaço físico de suas dependências.
Crianças e adolescentes, em contrapartida, não possuem mais – em sua grande maioria – noções mínimas de disciplina, porque vivem uma realidade pessoal desprovida de regras básicas. Pai e mãe, além de separados não conseguem se entender; as mães (sempre detentoras da guarda) não conseguem se impor e o problema cresce junto com as crianças; as relações interpessoais ganham uma aparência de jogo de interesses, na medida em que os filhos assistem suas mães saindo com um cortejo de homens diferentes e todos buscando a satisfação de interesses próprios. Na prática, para muitos desses filhos, a casa de moradia é um bordel doméstico, onde entram e saem homens de todo tipo, o tempo todo.
Os pais, por sua vez, estão sempre preocupadíssimos em desfilar seu carro novo e fazer uma demonstração explícita de seu crescimento financeiro, e de sua importância social comprando, acumulando e ostentando, em grande número de vezes por meios não exatamente lícitos e éticos.
De modo que, num tal contexto, pode-se dizer que o ideal masculino de sucesso se traduz em um empreendedorismo cafajeste bem sucedido e o ideal feminino em uma promiscuidade glamorosa e luxuriante. Em síntese: orgulho vazio e vaidade fútil, dinheiro e sexo, competição e sedução são os valores que movem o mundo atual.
Nesse quadro, as escolas recebem a cada ano, alunos cada vez mais selvagens, cada vez mais anti-sociais, meninos que entendem que podem resolver todos os seus problemas gritando mais alto e mostrando seus músculos; meninas que entendem que podem resolver todos os seus problemas olhando sedutoramente e realçando a bunda e os peitos.
Este é ou não um estágio de decomposição social com tendências à barbárie?
Se não for, alguém, por favor, me instrua sobre qual deverá ser o final da história, porque, provavelmente, devo estar desatualizado e com minha capacidade de observação e análise bastante comprometida.
Obs.: Logicamente ainda existem outros fatores a serem tratados, como o os conflitos que atingem as camadas mais desfavorecidas, mas o artigo não pretende esgotar o assunto, antes e tão somente levantar alguns aspectos da questão.
O disgnóstico é bastante pertitente e preocupante.
ResponderExcluirÉ intrigante tentar compreender porque o progresso científico e material estão dissociados do progresso moral. Talvez o mais triste nisto tudo é saber que a nossa sociedade (em momentos históricos distintos) já enfrentou situações semelhantes e percebemos que apreendemos muito pouco.
Pergunto: Existe solução? O que podemos fazer (a sociedade como um todo!) para alcançarmos essa paz tão ausente em nossas relações?
Confesso que não tenho a resposta, Rogério. Acho que muito do que hoje se considera progresso é, na verdade, um gigantesco retrocesso, mas sempre que expresso determinadas opiniões sou considerado reacionário. O jeito é levar a vida, procurando preservar nossas crenças pessoais. O meu grande dilema é pensar em que ensinar aos filhos. Afinal o mundo em que eles vão viver no futuro não tem nada a ver com nossos valores. E aí?
ResponderExcluir