Vai aqui mais uma das grandes anedotas deste país. Esta com cunho eminentemente político-administrativo. Na verdade a coisa toda não é exatamente engraçada, mas existem iniciativas que, de tão miseravelmente infelizes e desprovidas de bom senso, acabam ganhando um tom de piada. Não sei se se pode afirmar que seria cômico se não fosse trágico, ou se seria trágico, se não fosse cômico. Deixo para vocês leitores decidirem. Vamos aos fatos.
Como todos sabem, sou pai de um menino de cinco anos – Artur – bonito e inteligente como o pai (ele, pelo menos, é as duas coisas). Pois bem, o Artur entrou na escola em 2009 aos três anos de idade, matriculado no segundo maternal. Adaptou-se muitíssimo bem e no ano seguinte – 2010 – cursou o primeiro jardim. Em 2011 cursou o segundo jardim e concluiu o estágio da Educação Infantil devidamente alfabetizado, lendo e escrevendo (faz questão de ler em voz alta todos os outdoors da cidade), tendo sido considerado apto para ingressar no primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos.
Acontece que o meu Artur (Tutuzinho, como chamamos) é um simpático geminiano, faz aniversário no dia 12 de junho e começa o ano de 2012, portanto, com cinco anos. Pois bem, já no mês de novembro de 2011, recebemos a maravilhosa notícia de que o Conselho Nacional de Educação baixara instrução, segundo a qual o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental só seria admitido para crianças que completassem seis anos até o dia 31 de março. Imaginem como eu me senti ao ouvir a notícia. Imaginem a minha indignação. Pois é. Fato é que eu já me preparava para impetrar mandado de segurança garantindo o acesso de meu filho, quando recebi a notícia de que outros pais mais indignados que eu já haviam feito isso. E provando que nesse país, pelo menos o Poder Judiciário tem bom senso, foi um festival de liminares que acabaram por fazer com que o CNE retrocedesse e crianças na situação de meu filho pudessem ser normalmente matriculadas. A história teve um final feliz, mas isso não obsta a que se teçam alguns comentários quanto a essa iniciativa de iluminados:
A dita instrução tinha caráter genérico e não excepcionava qualquer criança, nem aquelas que já estivessem frequentando a escola desde o berçário. A justificativa apresentada para essa medida maravilhosa era que crianças de cinco anos ainda eram muito imaturas para o Ensino Fundamental e que acabavam fracassando, se não no primeiro ano, nos anos seguintes, por isso a medida visava a combater a repetência nos primeiros anos de escolaridade.
Magnífico! Acontece que uma criança como o meu filho que já tem três anos de escolaridade com o mais absoluto êxito iria repetir, mesmo tendo sido aprovado. A justificativa ficaria mais ou menos assim: vamos combater a repetência; a fim de que ele não repita lá na frente, vamos fazer ele repetir agora.
Isso é de uma profundidade filosófica que eu chego quase a não ter palavras para comentar. Mas comento assim mesmo. Acontece que eu não posso deixar de pensar que talvez os iluminados conselheiros, ao julgarem a maturidade e o QI de crianças de cinco anos, estivessem se baseando em crianças que eles mesmos conheçam. Quanto a isso eu não sei, mas sei com absoluta certeza que o meu, aos cinco anos, tem maturidade e inteligência de sobra para a alfabetização. Tanto tem, que está alfabetizado. Se quiserem comprovar o fato, basta virem aqui para conhece-lo. A propósito, eu comecei a dar aulas de inglês para ele recentemente. Se demorarem um pouquinho para vir, provavelmente irão encontrá-lo alfabetizado em dois idiomas. É que ninguém havia lhe dito que ele era muito imaturo para aprender a ler.
Outra coisa que não pode deixar de ser registrada é que meu filho sempre estudou em escola privada. Nesse caso, além do atraso e da frustração da criança, ainda haveria o meu prejuízo de jogar um ano de mensalidades escolares na lata do lixo. Aí não posso deixar de citar Juca Chaves “...as boas ideias são deles, mas o dinheiro é da gente”
E por falar nisso, eu conheço algumas pessoas que, não tendo a mesma sorte que eu e não podendo pagar uma escola privada, não podem matricular seus filhos na pré-escola, porque a escola pública não oferece. Isso me causa um certo constrangimento, principalmente quando nossos filhos estão juntos e o meu mostra satisfeito o seu progresso, enquanto os outros não tem ainda o que mostrar. Nessas horas, ao invés de sentir orgulho, sinto vergonha. Vergonha de ouvir a publicidade do governo dizendo “Brasil, um país de todos”.
Por isso, longe de mim querer aconselhar os conselheiros, mas que tal usarem a função de vocês para aconselhar a inclusão da pré-escola nos estabelecimentos da rede pública? Isso talvez não seja muito engraçado, mas certamente trará bem mais felicidade do que anedotas de mau gosto como fixar datas arbitrárias de corte ao direito de matrícula.
A propósito, por que 31 de março? Eu nasci em 1964 e 31 de março é uma data que me dá arrepios. E por falar em arrepios, a anedota ganha também contornos de humor negro quando eu penso na situação das crianças que nasceram ou viessem a nascer à meia-noite do dia primeiro de abril. Para elas o CNE poderia criar um slogan: perca um ano em um minuto. Não seria engraçado? Bem, os envolvidos talvez não achassem, não é mesmo?
De qualquer forma, graças ao bom senso dos Juízes Federais do Brasil, que não saem por aí “aconselhando”, mas que tem um enorme senso de justiça, meu “imaturo” filho de cinco anos está devidamente matriculado no primeiro ano do Ensino Fundamental e, pelo andar da carruagem, tudo indica que daqui a dezessete anos o Brasil estará ganhando um jovem e brilhante engenheiro (ele é apaixonado por eletrônica e já tem uma bancada onde faz seus experimentos). É que ninguém disse a ele que crianças de cinco anos não tem maturidade para gostar de eletrônica. Pelo visto, eu sou um pai muito negligente com a educação e o aconselhamento de meus filhos.
E por falar em aconselhamento, encerro a anedota citando o pouco aconselhável, mas brilhante Gregório de Matos:
“A cada canto um grande conselheiro,
Nos querendo governar cabana e vinha.
Não sabem governar sua cozinha,
E querem governar o mundo inteiro.”
Como todos sabem, sou pai de um menino de cinco anos – Artur – bonito e inteligente como o pai (ele, pelo menos, é as duas coisas). Pois bem, o Artur entrou na escola em 2009 aos três anos de idade, matriculado no segundo maternal. Adaptou-se muitíssimo bem e no ano seguinte – 2010 – cursou o primeiro jardim. Em 2011 cursou o segundo jardim e concluiu o estágio da Educação Infantil devidamente alfabetizado, lendo e escrevendo (faz questão de ler em voz alta todos os outdoors da cidade), tendo sido considerado apto para ingressar no primeiro ano do Ensino Fundamental de nove anos.
Acontece que o meu Artur (Tutuzinho, como chamamos) é um simpático geminiano, faz aniversário no dia 12 de junho e começa o ano de 2012, portanto, com cinco anos. Pois bem, já no mês de novembro de 2011, recebemos a maravilhosa notícia de que o Conselho Nacional de Educação baixara instrução, segundo a qual o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental só seria admitido para crianças que completassem seis anos até o dia 31 de março. Imaginem como eu me senti ao ouvir a notícia. Imaginem a minha indignação. Pois é. Fato é que eu já me preparava para impetrar mandado de segurança garantindo o acesso de meu filho, quando recebi a notícia de que outros pais mais indignados que eu já haviam feito isso. E provando que nesse país, pelo menos o Poder Judiciário tem bom senso, foi um festival de liminares que acabaram por fazer com que o CNE retrocedesse e crianças na situação de meu filho pudessem ser normalmente matriculadas. A história teve um final feliz, mas isso não obsta a que se teçam alguns comentários quanto a essa iniciativa de iluminados:
A dita instrução tinha caráter genérico e não excepcionava qualquer criança, nem aquelas que já estivessem frequentando a escola desde o berçário. A justificativa apresentada para essa medida maravilhosa era que crianças de cinco anos ainda eram muito imaturas para o Ensino Fundamental e que acabavam fracassando, se não no primeiro ano, nos anos seguintes, por isso a medida visava a combater a repetência nos primeiros anos de escolaridade.
Magnífico! Acontece que uma criança como o meu filho que já tem três anos de escolaridade com o mais absoluto êxito iria repetir, mesmo tendo sido aprovado. A justificativa ficaria mais ou menos assim: vamos combater a repetência; a fim de que ele não repita lá na frente, vamos fazer ele repetir agora.
Isso é de uma profundidade filosófica que eu chego quase a não ter palavras para comentar. Mas comento assim mesmo. Acontece que eu não posso deixar de pensar que talvez os iluminados conselheiros, ao julgarem a maturidade e o QI de crianças de cinco anos, estivessem se baseando em crianças que eles mesmos conheçam. Quanto a isso eu não sei, mas sei com absoluta certeza que o meu, aos cinco anos, tem maturidade e inteligência de sobra para a alfabetização. Tanto tem, que está alfabetizado. Se quiserem comprovar o fato, basta virem aqui para conhece-lo. A propósito, eu comecei a dar aulas de inglês para ele recentemente. Se demorarem um pouquinho para vir, provavelmente irão encontrá-lo alfabetizado em dois idiomas. É que ninguém havia lhe dito que ele era muito imaturo para aprender a ler.
Outra coisa que não pode deixar de ser registrada é que meu filho sempre estudou em escola privada. Nesse caso, além do atraso e da frustração da criança, ainda haveria o meu prejuízo de jogar um ano de mensalidades escolares na lata do lixo. Aí não posso deixar de citar Juca Chaves “...as boas ideias são deles, mas o dinheiro é da gente”
E por falar nisso, eu conheço algumas pessoas que, não tendo a mesma sorte que eu e não podendo pagar uma escola privada, não podem matricular seus filhos na pré-escola, porque a escola pública não oferece. Isso me causa um certo constrangimento, principalmente quando nossos filhos estão juntos e o meu mostra satisfeito o seu progresso, enquanto os outros não tem ainda o que mostrar. Nessas horas, ao invés de sentir orgulho, sinto vergonha. Vergonha de ouvir a publicidade do governo dizendo “Brasil, um país de todos”.
Por isso, longe de mim querer aconselhar os conselheiros, mas que tal usarem a função de vocês para aconselhar a inclusão da pré-escola nos estabelecimentos da rede pública? Isso talvez não seja muito engraçado, mas certamente trará bem mais felicidade do que anedotas de mau gosto como fixar datas arbitrárias de corte ao direito de matrícula.
A propósito, por que 31 de março? Eu nasci em 1964 e 31 de março é uma data que me dá arrepios. E por falar em arrepios, a anedota ganha também contornos de humor negro quando eu penso na situação das crianças que nasceram ou viessem a nascer à meia-noite do dia primeiro de abril. Para elas o CNE poderia criar um slogan: perca um ano em um minuto. Não seria engraçado? Bem, os envolvidos talvez não achassem, não é mesmo?
De qualquer forma, graças ao bom senso dos Juízes Federais do Brasil, que não saem por aí “aconselhando”, mas que tem um enorme senso de justiça, meu “imaturo” filho de cinco anos está devidamente matriculado no primeiro ano do Ensino Fundamental e, pelo andar da carruagem, tudo indica que daqui a dezessete anos o Brasil estará ganhando um jovem e brilhante engenheiro (ele é apaixonado por eletrônica e já tem uma bancada onde faz seus experimentos). É que ninguém disse a ele que crianças de cinco anos não tem maturidade para gostar de eletrônica. Pelo visto, eu sou um pai muito negligente com a educação e o aconselhamento de meus filhos.
E por falar em aconselhamento, encerro a anedota citando o pouco aconselhável, mas brilhante Gregório de Matos:
“A cada canto um grande conselheiro,
Nos querendo governar cabana e vinha.
Não sabem governar sua cozinha,
E querem governar o mundo inteiro.”
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