Tradicionalmente sempre fui chamado de encrenqueiro, insatisfeito, chato e uma longa lista de adjetivos que se inscrevam no mesmo campo semântico. Aceitei sempre os rótulos, afinal não posso negar alguns traços de minha personalidade e também não posso impedir que as pessoas formem juízos de valor a respeito de mim. Minha autoimagem, no entanto, difere um pouco disso: considero-me apenas uma pessoa de bom senso, que não aceita passivamente alguns contrassensos de nosso cotidiano e que se irrita muito, diante de coisas absolutamente inaceitáveis do ponto de vista da coerência e da racionalidade.
Não há dúvida de que uma pessoa assim que nasce no Brasil está fadada a uma vida de inconformismos e de grandes embates (inclusive jurídicos) contra os absurdos de sua sociedade, afinal o Brasil é o país dos absurdos; a maior parte deles, a meu ver, decorrentes de um estágio crônico de desgoverno, ou – o que é pior – de governos comprometidos com interesses escusos e totalmente dissociados do que seria o bem-estar dos súditos do estado. No final, é muito triste ter que viver em conflito, tentando mostrar à maioria das pessoas que as coisas não poderiam ser do jeito que são. Às vezes acho que o estado de acefalia funcional que é dominante na população produz uma vida mais feliz e mais tranquila que a minha.
De qualquer forma, há coisas com que não consigo conviver passivamente. Uma dessas coisas é a telefonia do Brasil, principalmente a telefonia celular, sobre a qual recai a ênfase desse pequeno artigo (mais adiante falarei também sobre a telefonia fixa).
Nasci e cresci em uma época em que pensar em telefonia celular era coisa de ficção científica. Já estava adulto (cerca de trinta anos), quando os aparelhinhos começaram a aparecer, primeiramente nas mãos de alguns poucos privilegiados e, posteriormente disseminados por todas as camadas e faixas etárias da população, à semelhança de uma epidemia altamente virulenta e letal.
Em 1997 adquiri meu primeiro celular, coincidindo com a abertura de mercado às operadoras privadas, pois antes disso era-se obrigado a disputar o privilégio de uma linha a pauladas. Era um aparelho ainda bastante primitivo em relação aos de hoje, mas que cumpria de forma exemplar a função precípua a que se destinava: fazia e recebia ligações em todo o território nacional. Cheguei a viajar algumas vezes com ele e tive a possibilidade de bem me comunicar com as pessoas em alguns estados, sem qualquer problema e, ainda por cima, a um preço razoável. Era bom e isso me fez acreditar que o celular era realmente algo que viera trazer evolução, afinal comunicar-se ainda é uma das maiores necessidades do ser humano.
Estranhamente, em nosso mundo e principalmente no Brasil, não há nada que esteja indo bem e que não possa ser estragado, principalmente se isso vier alimentar a insanidade dos modismos disparatados e, obviamente, a conta bancária daqueles que exploram a indústria da estupidez. Caminhamos rapidamente para o estágio de caos e de ausência de regras com que nos deparamos no momento. Gradativamente, na medida em que aumentava a quantidade do operadoras no mercado, aumentava também astronomicamente o valor das faturas mensais. É que a concorrência diminuía o número de clientes de cada operadora e essas acabavam tendo que compensar isso com o aumento das tarifas.
Aos poucos surgiram as inevitáveis falcatruas, as contas que ninguém conseguia explicar e as chamadas para números de pessoas com quem jamais tivemos qualquer tipo de relação. E o preço subindo... subindo... subindo... Por fim tomei uma decisão: transformei meu celular em pré-pago, com o objetivo de não mais ser roubado pelas operadoras. Pura ilusão. Logo descobri que os créditos que eu colocava em meu telefone tinham que ser usados em trinta dias, caso contrario perderiam a validade (posteriormente a ANATEL exigiu que o prazo se dilatasse para 90 dias). Descobri também que a chamada feita de um celular pré-pago era mais cara do que a feita por um celular pós-pago.
Fácil perceber que até aí eu já tinha dois porquês que eu queria ver respondidos e que ninguém conseguia me responder com um mínimo de senso de lógica. Ora, por que os créditos que eu coloco em meu celular tem que ter validade, seja de trinta ou de noventa dias? Não é um produto perecível. Isso é ridículo. Mais que ridículo, é absolutamente inaceitável. Mas as pessoas não pensam assim. Notoriamente as autoridades do setor não pensam assim. Claramente o presidente da ANATEL não pensa assim. De qualquer forma eu humildemente o desafio a me dar uma explicação coerente e racional para tal absurdo.
Também não encontrei resposta para a pergunta: por que a ligação originada de um pré-pago é mais cara que a de um pós-pago? Do meu ponto de vista isso é insano. Não existe um único argumento técnico que justifique esse absurdo. Contudo, aparentemente as autoridades do setor também não pensam assim. Claramente o presidente da ANATEL não pensa assim. Ou, se pensa, não faz nada para mudar essa realidade.
Mas não pensem que minha indignação se resume a esse dois aspectos. Ainda há muitas outras coisas que me chamam a atenção. Entre elas posso citar o fato de que, durante minha viagem no mês de janeiro, levei meu celular com dois chips, um pós-pago e o outro pré-pago. O pré, segundo a propaganda da operadora, me permitia falar com qualquer telefone da mesma operadora, ou qualquer fixo, por apenas vinte e cinco centavos, de qualquer lugar do país, por tempo ilimitado. Antes de sair de Brasília, fiz uma recarga de R$35,00 e segui tranquilo, certo de que estaria apto a realizar pelo menos cento e quarenta ligações de tempo ilimitado. Qual não foi minha surpresa ao fazer a segunda ligação e constatar que meus créditos haviam acabado. Até o presente momento, ninguém conseguiu me dar qualquer explicação sobre o problema. Mas isso ainda não é o pior: depois que meus créditos acabaram, tentei falar na casa de meus pais e fiz uma chamada a cobrar. Minha perplexidade foi à beira da apoplexia, quando recebi uma gravação me informando que meus créditos eram insuficientes para realizar aquela chamada. Vejam bem, se eu estou fazendo uma ligação a cobrar, a pressuposição é de que eu não tenho créditos. Se tivesse, não haveria necessidade de chamar a cobrar. Agora, exigir que você tenha créditos para realizar chamadas a cobrar é uma coisa tão ridiculamente ilógica que chega a ser ofensivo ao usuário. É isso aí, as operadoras não tem o menor respeito, o menor indício de consideração com o cidadão-usuário. Somos tratados como idiotas, sequer recebemos informações pertinentes.
Exemplo disso é o que aconteceu com minha esposa que, antes de viajar comprou um chip da Claro, a fim de desfrutar da promoção de falar com qualquer lugar do país por apenas vinte e um centavos. Assim que chegamos ao destino (Piauí), ela fez uma ligação e seus créditos acabaram. Ao reclamar com a operadora, foi informada pela atendente que a promoção realmente existe, mas que, se o chip dela era de Brasília, ela só poderia usar a promoção se estivesse em Brasília, fora daqui ela pagaria valores normais de chamadas de longa distância. Acontece que ao comprar o chip, minha mulher falou com a atendente da loja que o estava comprando com essa finalidade. Voltou a dizer a mesma coisa por ocasião da habilitação do chip e, em nenhum momento foi avisada dessa particularidade.
É isso. As operadoras nos tratam com descaso e a falta de informações consistentes, se não for decorrente de uma vergonhosa incompetência, é de uma inequívoca má-fé. Seja como for, nós somos as vítimas. Passamos por todo tipo de experiência humilhante, sabemos que essas empresas são líderes absolutas de reclamações nos órgãos de defesa do consumidor, mas o estado incompetente e inoperante não faz absolutamente nada. A única coisa que ainda nos resta é o recurso ao Judiciário que sempre reconhece a razão do consumidor diante dessas barbaridades. Todos sabem, contudo, as dificuldades e o tempo demandado para se buscar uma prestação jurisdicional.
A única via de solução parece estar em nós mesmos, em nossa atuação. Para tanto, é necessário que todos saibam que qualquer cidadão civilmente capaz pode ajuizar ações de valores menores ou iguais a vinte salários, sem necessidade de advogado. Se cada cidadão prejudicado ingressasse com uma ação, em pouco tempo o prejuízo das operadoras com indenizações seria tão grande, que elas seriam obrigadas a repensar seu jeito de atuar no mercado.
Seja sensato, proteste, denuncie, acione, ajude a mudar o comportamento desses bandidos das telecomunicações.
Não há dúvida de que uma pessoa assim que nasce no Brasil está fadada a uma vida de inconformismos e de grandes embates (inclusive jurídicos) contra os absurdos de sua sociedade, afinal o Brasil é o país dos absurdos; a maior parte deles, a meu ver, decorrentes de um estágio crônico de desgoverno, ou – o que é pior – de governos comprometidos com interesses escusos e totalmente dissociados do que seria o bem-estar dos súditos do estado. No final, é muito triste ter que viver em conflito, tentando mostrar à maioria das pessoas que as coisas não poderiam ser do jeito que são. Às vezes acho que o estado de acefalia funcional que é dominante na população produz uma vida mais feliz e mais tranquila que a minha.
De qualquer forma, há coisas com que não consigo conviver passivamente. Uma dessas coisas é a telefonia do Brasil, principalmente a telefonia celular, sobre a qual recai a ênfase desse pequeno artigo (mais adiante falarei também sobre a telefonia fixa).
Nasci e cresci em uma época em que pensar em telefonia celular era coisa de ficção científica. Já estava adulto (cerca de trinta anos), quando os aparelhinhos começaram a aparecer, primeiramente nas mãos de alguns poucos privilegiados e, posteriormente disseminados por todas as camadas e faixas etárias da população, à semelhança de uma epidemia altamente virulenta e letal.
Em 1997 adquiri meu primeiro celular, coincidindo com a abertura de mercado às operadoras privadas, pois antes disso era-se obrigado a disputar o privilégio de uma linha a pauladas. Era um aparelho ainda bastante primitivo em relação aos de hoje, mas que cumpria de forma exemplar a função precípua a que se destinava: fazia e recebia ligações em todo o território nacional. Cheguei a viajar algumas vezes com ele e tive a possibilidade de bem me comunicar com as pessoas em alguns estados, sem qualquer problema e, ainda por cima, a um preço razoável. Era bom e isso me fez acreditar que o celular era realmente algo que viera trazer evolução, afinal comunicar-se ainda é uma das maiores necessidades do ser humano.
Estranhamente, em nosso mundo e principalmente no Brasil, não há nada que esteja indo bem e que não possa ser estragado, principalmente se isso vier alimentar a insanidade dos modismos disparatados e, obviamente, a conta bancária daqueles que exploram a indústria da estupidez. Caminhamos rapidamente para o estágio de caos e de ausência de regras com que nos deparamos no momento. Gradativamente, na medida em que aumentava a quantidade do operadoras no mercado, aumentava também astronomicamente o valor das faturas mensais. É que a concorrência diminuía o número de clientes de cada operadora e essas acabavam tendo que compensar isso com o aumento das tarifas.
Aos poucos surgiram as inevitáveis falcatruas, as contas que ninguém conseguia explicar e as chamadas para números de pessoas com quem jamais tivemos qualquer tipo de relação. E o preço subindo... subindo... subindo... Por fim tomei uma decisão: transformei meu celular em pré-pago, com o objetivo de não mais ser roubado pelas operadoras. Pura ilusão. Logo descobri que os créditos que eu colocava em meu telefone tinham que ser usados em trinta dias, caso contrario perderiam a validade (posteriormente a ANATEL exigiu que o prazo se dilatasse para 90 dias). Descobri também que a chamada feita de um celular pré-pago era mais cara do que a feita por um celular pós-pago.
Fácil perceber que até aí eu já tinha dois porquês que eu queria ver respondidos e que ninguém conseguia me responder com um mínimo de senso de lógica. Ora, por que os créditos que eu coloco em meu celular tem que ter validade, seja de trinta ou de noventa dias? Não é um produto perecível. Isso é ridículo. Mais que ridículo, é absolutamente inaceitável. Mas as pessoas não pensam assim. Notoriamente as autoridades do setor não pensam assim. Claramente o presidente da ANATEL não pensa assim. De qualquer forma eu humildemente o desafio a me dar uma explicação coerente e racional para tal absurdo.
Também não encontrei resposta para a pergunta: por que a ligação originada de um pré-pago é mais cara que a de um pós-pago? Do meu ponto de vista isso é insano. Não existe um único argumento técnico que justifique esse absurdo. Contudo, aparentemente as autoridades do setor também não pensam assim. Claramente o presidente da ANATEL não pensa assim. Ou, se pensa, não faz nada para mudar essa realidade.
Mas não pensem que minha indignação se resume a esse dois aspectos. Ainda há muitas outras coisas que me chamam a atenção. Entre elas posso citar o fato de que, durante minha viagem no mês de janeiro, levei meu celular com dois chips, um pós-pago e o outro pré-pago. O pré, segundo a propaganda da operadora, me permitia falar com qualquer telefone da mesma operadora, ou qualquer fixo, por apenas vinte e cinco centavos, de qualquer lugar do país, por tempo ilimitado. Antes de sair de Brasília, fiz uma recarga de R$35,00 e segui tranquilo, certo de que estaria apto a realizar pelo menos cento e quarenta ligações de tempo ilimitado. Qual não foi minha surpresa ao fazer a segunda ligação e constatar que meus créditos haviam acabado. Até o presente momento, ninguém conseguiu me dar qualquer explicação sobre o problema. Mas isso ainda não é o pior: depois que meus créditos acabaram, tentei falar na casa de meus pais e fiz uma chamada a cobrar. Minha perplexidade foi à beira da apoplexia, quando recebi uma gravação me informando que meus créditos eram insuficientes para realizar aquela chamada. Vejam bem, se eu estou fazendo uma ligação a cobrar, a pressuposição é de que eu não tenho créditos. Se tivesse, não haveria necessidade de chamar a cobrar. Agora, exigir que você tenha créditos para realizar chamadas a cobrar é uma coisa tão ridiculamente ilógica que chega a ser ofensivo ao usuário. É isso aí, as operadoras não tem o menor respeito, o menor indício de consideração com o cidadão-usuário. Somos tratados como idiotas, sequer recebemos informações pertinentes.
Exemplo disso é o que aconteceu com minha esposa que, antes de viajar comprou um chip da Claro, a fim de desfrutar da promoção de falar com qualquer lugar do país por apenas vinte e um centavos. Assim que chegamos ao destino (Piauí), ela fez uma ligação e seus créditos acabaram. Ao reclamar com a operadora, foi informada pela atendente que a promoção realmente existe, mas que, se o chip dela era de Brasília, ela só poderia usar a promoção se estivesse em Brasília, fora daqui ela pagaria valores normais de chamadas de longa distância. Acontece que ao comprar o chip, minha mulher falou com a atendente da loja que o estava comprando com essa finalidade. Voltou a dizer a mesma coisa por ocasião da habilitação do chip e, em nenhum momento foi avisada dessa particularidade.
É isso. As operadoras nos tratam com descaso e a falta de informações consistentes, se não for decorrente de uma vergonhosa incompetência, é de uma inequívoca má-fé. Seja como for, nós somos as vítimas. Passamos por todo tipo de experiência humilhante, sabemos que essas empresas são líderes absolutas de reclamações nos órgãos de defesa do consumidor, mas o estado incompetente e inoperante não faz absolutamente nada. A única coisa que ainda nos resta é o recurso ao Judiciário que sempre reconhece a razão do consumidor diante dessas barbaridades. Todos sabem, contudo, as dificuldades e o tempo demandado para se buscar uma prestação jurisdicional.
A única via de solução parece estar em nós mesmos, em nossa atuação. Para tanto, é necessário que todos saibam que qualquer cidadão civilmente capaz pode ajuizar ações de valores menores ou iguais a vinte salários, sem necessidade de advogado. Se cada cidadão prejudicado ingressasse com uma ação, em pouco tempo o prejuízo das operadoras com indenizações seria tão grande, que elas seriam obrigadas a repensar seu jeito de atuar no mercado.
Seja sensato, proteste, denuncie, acione, ajude a mudar o comportamento desses bandidos das telecomunicações.
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