Asseverava Marx que as sociedades se organizam em torno de fatores econômicos e tais fatores determinam sua dinâmica ao longo da História. Mas Marx estava equivocado. Desde os primórdios, as sociedades se organizaram em torno de um complexo de valores, dos quais o fator econômico é apenas um componente, ainda que um componente de grande peso.
Impossível querer reduzir toda a complexidade da organização social do Egito Antigo a um mero jogo de relações econômicas, desprezando, por exemplo, o papel da religião na vida dos indivíduos. Igualmente impossível seria tentar ignorar, na análise da sociedade grega, que Esparta se assentava muito mais sobre valores como honra e coragem e que Atenas agregava a esses, o valor do conhecimento. Roma produziu e exportou para todas as províncias do império uma estrutura jurídica semeando o valor da justiça a regular as relações sociais. Mesmo na Idade Média, as rígidas regras de susserania e vassalagem aliadas aos Códigos de Cavalaria, além do fervor religioso sedimentaram valores profundos como fidelidade, lealdade e honra que se constituíram em fortes pilares de sustentação de uma estrutura política tão frágil e instável, para se projetarem no futuro, como herança positiva de uma era de suposto obscurantismo.
Todo esse legado, que ainda passa pelas aquisições estéticas e humanitárias do Renascimento e agrega os valores racionais e sociais do Iluminismo, além das conquistas de duas Revoluções Industriais, foi, por assim dizer, “sintetizado” ao longo do Século XX, principalmente após a 2ª Grande Guerra, produzindo os paradigmas de homem e sociedade ideais.
Segundo tais modelos, o homem ideal deveria possuir valores espirituais: a importância da vida, da crença, da fraternidade e da solidariedade; valores éticos: honestidade, lealdade, fidelidade, sinceridade e dignidade; valores sociais: a família, o próximo, a comunidade, a nação; valores políticos: a democracia, a liberdade, a justiça e a igualdade perante a lei, além dos valores práticos representados pela importância do conhecimento e pela imprescindibilidade do trabalho.
Nesse mesmo diapasão, o conjunto de indivíduos imbuídos desses valores, através do trabalho, do esforço individual e coletivo, da participação política e do respeito à lei e à ordem, contribuiria para a construção de uma sociedade democrática, fundada no estado de direito, com igualdade de oportunidades e justiça para todos.
Ainda que pareça utópico, todos nós, homens e mulheres do Século XX nascemos, crescemos e fomos formados sob a égide desse ideal. Mesmo aqueles (dentre os quais me incluo) que em algum momento de suas vidas, por força de alguma doutrina filosófica ou ideológica, criticaram ou questionaram alguns desses cânones; jamais conseguiram se abstrair de todos, pois que o homem, em sua dimensão histórica, parte, em cada época específica, de um arcabouço pré-existente, para, com sua contribuição, acrescentar mais alguns tijolos ao edifício da civilização.
Isso é o que venho tentando fazer ao longo de minha existência: somar aos determinantes históricos sob os quais tenho vivido, a marca de minha personalidade e de minhas idéias para deixar minha contribuição, ainda que anônima, para a História de meu tempo e de minha sociedade. Faço isso nas duas profissões em que milito, mas ultimamente tenho me sentido bastante frustrado e, acima de tudo, muito preocupado com a continuidade histórica do homem.
Essa preocupação decorre da percepção cada vez mais acentuada de que nossa sociedade vive um momento de ruptura com os valores humanos.
Ainda que de forma inconsciente – o que é muito pior – a filosofia que hoje dirige o mundo é o hedonismo. Pessoas de todas as faixas etárias conduzem suas vidas na direção do prazer imediato e, no mais das vezes, irresponsável e egoísta
Preocupa-me perceber que os jovens, por exemplo, chafurdam-se num lamaçal de sexo, drogas e violência gratuita
Preocupa-me ainda mais perceber que homens e mulheres adultos exercitam um consumismo irresponsável, uma vaidade fútil uma sexualidade bestial (nem as relações de parentesco fraterno são mais respeitadas) e não demonstram qualquer apego ao caráter.
Este artigo, provavelmente, será tachado por muitos de conservador e ultrapassado. Não importa. Ficará como um registro de minha voz solitária denunciando as mazelas de uma sociedade que aparentemente perdeu o rumo e marcha para o precipício, para a auto aniquilação.
Impossível querer reduzir toda a complexidade da organização social do Egito Antigo a um mero jogo de relações econômicas, desprezando, por exemplo, o papel da religião na vida dos indivíduos. Igualmente impossível seria tentar ignorar, na análise da sociedade grega, que Esparta se assentava muito mais sobre valores como honra e coragem e que Atenas agregava a esses, o valor do conhecimento. Roma produziu e exportou para todas as províncias do império uma estrutura jurídica semeando o valor da justiça a regular as relações sociais. Mesmo na Idade Média, as rígidas regras de susserania e vassalagem aliadas aos Códigos de Cavalaria, além do fervor religioso sedimentaram valores profundos como fidelidade, lealdade e honra que se constituíram em fortes pilares de sustentação de uma estrutura política tão frágil e instável, para se projetarem no futuro, como herança positiva de uma era de suposto obscurantismo.
Todo esse legado, que ainda passa pelas aquisições estéticas e humanitárias do Renascimento e agrega os valores racionais e sociais do Iluminismo, além das conquistas de duas Revoluções Industriais, foi, por assim dizer, “sintetizado” ao longo do Século XX, principalmente após a 2ª Grande Guerra, produzindo os paradigmas de homem e sociedade ideais.
Segundo tais modelos, o homem ideal deveria possuir valores espirituais: a importância da vida, da crença, da fraternidade e da solidariedade; valores éticos: honestidade, lealdade, fidelidade, sinceridade e dignidade; valores sociais: a família, o próximo, a comunidade, a nação; valores políticos: a democracia, a liberdade, a justiça e a igualdade perante a lei, além dos valores práticos representados pela importância do conhecimento e pela imprescindibilidade do trabalho.
Nesse mesmo diapasão, o conjunto de indivíduos imbuídos desses valores, através do trabalho, do esforço individual e coletivo, da participação política e do respeito à lei e à ordem, contribuiria para a construção de uma sociedade democrática, fundada no estado de direito, com igualdade de oportunidades e justiça para todos.
Ainda que pareça utópico, todos nós, homens e mulheres do Século XX nascemos, crescemos e fomos formados sob a égide desse ideal. Mesmo aqueles (dentre os quais me incluo) que em algum momento de suas vidas, por força de alguma doutrina filosófica ou ideológica, criticaram ou questionaram alguns desses cânones; jamais conseguiram se abstrair de todos, pois que o homem, em sua dimensão histórica, parte, em cada época específica, de um arcabouço pré-existente, para, com sua contribuição, acrescentar mais alguns tijolos ao edifício da civilização.
Isso é o que venho tentando fazer ao longo de minha existência: somar aos determinantes históricos sob os quais tenho vivido, a marca de minha personalidade e de minhas idéias para deixar minha contribuição, ainda que anônima, para a História de meu tempo e de minha sociedade. Faço isso nas duas profissões em que milito, mas ultimamente tenho me sentido bastante frustrado e, acima de tudo, muito preocupado com a continuidade histórica do homem.
Essa preocupação decorre da percepção cada vez mais acentuada de que nossa sociedade vive um momento de ruptura com os valores humanos.
Ainda que de forma inconsciente – o que é muito pior – a filosofia que hoje dirige o mundo é o hedonismo. Pessoas de todas as faixas etárias conduzem suas vidas na direção do prazer imediato e, no mais das vezes, irresponsável e egoísta
Preocupa-me perceber que os jovens, por exemplo, chafurdam-se num lamaçal de sexo, drogas e violência gratuita
Preocupa-me ainda mais perceber que homens e mulheres adultos exercitam um consumismo irresponsável, uma vaidade fútil uma sexualidade bestial (nem as relações de parentesco fraterno são mais respeitadas) e não demonstram qualquer apego ao caráter.
Este artigo, provavelmente, será tachado por muitos de conservador e ultrapassado. Não importa. Ficará como um registro de minha voz solitária denunciando as mazelas de uma sociedade que aparentemente perdeu o rumo e marcha para o precipício, para a auto aniquilação.
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