Certamente todo mundo já ouviu falar de Camões. Trata-se do mais conhecido poeta da Língua Portuguesa em todos os tempos, considerado um clássico e cultuado com orgulho pelo povo português, certamente não apenas por sua obra épica "Os Lusíadas", mas pelo conjunto da obra, já que ele realmente era um grande poeta.
O que a maioria das pessoas não sabe é que, se hoje Camões desfruta de grande prestígio, em seu tempo, contudo, sua vida não foi nenhum mar de rosas. Camões foi uma daquelas pessoas que fez de tudo na vida e não conseguiu acertar em nada, exceto na poesia. Morreu pobre e tuberculoso, só conseguindo um pouco de dignidade nos momentos finais graças a um amigo que o recolheu na sarjeta e o levou para sua casa, onde cuidou dele até o fim.
Entre as muitas facetas de Camões, consta que ele foi um homem de muitas mulheres (talvez aí esteja parte do segredo de sua desgraça), de muitos amores e de muitas ilusões. Sua principal obra, aquela que o eternizou, está indissociavelmente ligada a um desses amores de Camões.
Conta-se que ele viveu muitos anos na Índia, onde Portugal possuia a colônia de Goa. Durante sua estadia por lá, conheceu uma jovem indiana, chamada Dinamene, por quem se apaixonou perdidamente. Pretendia levá-la a Portugal e desposá-la, viveram um romance tórrido durante algum tempo. Sabe-se, porém que o livro "Os Lusíadas" levou dez anos para ser escrito e foi concluído quando Camões estava na Índia, vivendo seu tórrido amor com Dinamene.
Ao concluir o livro, Camões sabia que aquela era a obra de sua vida, que era a obra que lhe reservaria um lugar na História.
Sucede que, um belo dia, Camões encontrava-se em companhia de sua amada no interior de um barco que navegava pelo rio Goa e levava consigo o manuscrito de Os Lusíadas, na verdade a única cópia, pois, no Século XVI obviament não havia Xerox.
Houve uma inesperada tempestade, e o barco em que eles viajavam naufragou. Camões, que servira muitos anos na marinha, era um exímio nadador, mas Dinamene não dava sequer uma braçada.
Camões se viu então diante do maior dilema de sua vida: o manuscrito que ele trazia consigo era muito pesado e precisava ser mantido fora da água, tanto quanto possível, por isso, ele teria que nadar com um só braço para levar o livro. Restou-lhe a dramática escolha: ou salvava o manuscrito, ou salvava Dinamene. Bem, o livro foi publicado cerca de um mês depois.
Quanto a Dinamene, sua morte entristeceu profundamente Camões que, em sua homenagem escreveu um dos mais belos e mais bem compostos sonetos da literatura mundial:
Alma minha gentil que te partiste,
Tão cedo desta vida, descontente
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no acento etéreo onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Relembra aquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa sem remédio de perder-te,
Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
Pois é, o Mundo perdeu uma Dinamene mas, em compensação ganhou um poema dessa envergadura. Eu não sei se ele realmente amava a moça com toda essa intensidade, mas, a julgar pelo poema, devia amar, porque não é todo dia que alguém escreve um poema com tamanha perfeição. Dá até para achar que a Dinamene não morreu em vão. Que vocês acham?
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