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Frases Célebres

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Parasitismo Social e Violência



Mais uma vez vemos uma babá praticar maus tratos com uma criança muito pequena. E desta vez ainda há indícios de prática de abuso sexual. O episódio, que muito se assemelha a outro ocorrido há alguns anos, à parte o que possui de revoltante, suscita alguns questionamentos da mais alta importância, dentre os quais quero dar destaque ao seguinte: o que leva uma pessoa a praticar atos tão imundos?
Qualquer tentativa de resposta tende a gerar polêmica, porque as possíveis explicações, sejam quais forem, não irão jamais agradar a todos, simplesmente porque é impossível dissociar a interpretação de um tal fato, de uma interpretação de mundo e aí entram em campo as ideologias que, no mais das vezes obscurecem o caminho da verdade e induzem a erros.
Infelizmente existe um padrão de pessoas que, atordoadas pelos problemas e obstáculos que enfrentam em suas vidas, são simplesmente incapazes de reconhecerem a si mesmas como artífices do próprio fracasso. Ao invés disso, tendem a culpar aqueles que se fizeram bem sucedidos à custa do esforço e do trabalho.
Essa triste situação produz graves problemas sociais que permanecem latentes e que, eventualmente, vem à tona em episódios isolados que chamam a atenção por sua gravidade e pelo grau de barbárie que encerram em si mesmos.
No caso da babá – e note-se que esse não é o primeiro, pois já tivemos algo semelhante alguns anos atrás em Goiânia – quando analisamos o perfil da pessoa, nos deparamos infalivelmente com características absolutamente semelhantes: mulheres de aparência e comportamento grosseiros, de nenhuma formação intelectual, ligadas a homens igualmente grosseiros e ignorantes, oriundas da periferia, onde compartilham no dia-a-dia uma cultura de miséria, violência e revolta.
Nesse quadro, o que merece um destaque especial é justamente a revolta que, a meu ver, encontra-se na base da violência e que, na maior parte das vezes é absolutamente injustificada. Digo isso, porque se tornou clichê no Brasil afirmar que a desigualdade decorre da falta de oportunidades. O problema é que a grande maioria dos brasileiros entende “ter oportunidade” como sinônimo de “nascer rico”, ou de “receber favores”.
Dessa forma, não nascer rico já se torna uma fonte injustificada de revolta que leva ao obtuso raciocínio: “por que alguns tem tanta sorte e eu não tenho?”. Essa visão estrábica da realidade conduz primeiramente a uma revolta com o destino e, posteriormente, como fruto do inevitável sentimento de inveja, a uma revolta contra aqueles que possuem uma melhor condição de vida, não importando o que esteja por trás dessa condição. Lembro-me, inclusive, de um fato ocorrido alguns anos atrás em Brasília, quando uma jovem de classe média alta foi vítima de um homicídio cruel perpetrado por um casal de empregados da família. Posteriormente, na delegacia, a empregada disse em seu depoimento, como justificativa para o ato que: “...ela era linda, rica, tinha tudo na vida e eu nunca tive nada...”.
Na mesma linha de pensamento, quem não nasce rico, ainda tem uma segunda alternativa que consiste em receber favores. Essa alternativa é a que tem sido base de sustentação para que alguns políticos se perpetuem no poder de forma clientelista, distribuindo entre os “desvalidos” toda sorte de bens e benefícios. Isso, aliás, já se tornou política pública no Brasil, através da instituição dos chamados “vales”. Existe o vale-leite, o vale-gás, o vale-transporte, o vale-alimentação... Ah! Sim, o vale-tudo que é a filosofia por trás do clientelismo.
E por falar em vale-tudo, nas últimas décadas surgiu um novo tipo de clientelismo: algumas denominações religiosas passaram a orientar seus fieis no sentido de que Deus é obrigado a lhes dar um padrão de vida privilegiado, bastando para isso que eles adulem bastante ao Senhor, principalmente dando-lhe dinheiro e bens. Com isso tornou-se muito comum a política do toma-lá-dá-cá com o criador. É usual verem-se pessoas dando tudo que tem ao “senhor”, a fim de que esse, honrando sua fé, lhes restitua com imensas fortunas pessoais.
Foi nesse caldo de cultura, ao influxo dessas práticas espúrias que, gradativamente, na periferia das grandes e médias cidades do país formou-se um gigantesco contingente de desqualificados preguiçosos e ambiciosos, vivendo amontoados à espera dos favorecimentos do poder público e de Deus.
Quando o favorecimento não vem, ou quando não é suficiente, resta-lhes a alternativa do crime, a da mendicância, ou aquela que, dentre todas, lhes parece a mais indigna, cruel, desventurada e deplorável de todas: trabalhar para garantir o próprio sustento.
É nesse momento que surgem as babás criminosas, descontando em crianças incapazes de se defenderem a indignação que sentem por se verem obrigadas a venderem sua mão-de-obra, a fim de assegurar o pão de cada dia e provavelmente também a pinga de cada dia de seus companheiros gigolôs.
O que vem faltando em grande escala no Brasil não são oportunidades; é caráter. Necessitamos urgentemente de uma gigantesca campanha em prol do saneamento cultural, uma verdadeira revolução que venha a romper com essa cultura de parasitas sociais e redimensionar o papel que o conceito de dignidade deve exercer na vida de todas as pessoas.

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