A grande maioria das pessoas considera a riqueza e o poder como referenciais da felicidade humana. Não se pode negar que a força do dinheiro pode, em muitos momentos, funcionar como um atenuante de muitas dores, mas certamente ele não tem o poder de nos livrar do infortúnio. A história registra vários casos de pessoas que, embora desfrutando de grande fortuna e de considerável parcela de poder, não conseguiram driblar a adversidade e tragédia pessoal.
Um desses casos em particular chama a atenção, pelo que tem de dramático, inusitado e curioso. É a História de um homem chamado Francisco José (Franz Joseph), Imperador da Áustria entre 1848 e 1916. Sua vida é marcada por uma sucessão de fatos trágicos que o levaram tanto ao trono como às mais duras provações. Seu lugar na História é assinalado por uma ambigüidade: tanto pode ser visto como herói, quanto como vilão.
Seu destino é interessante, pois, ao nascer, não estava na linha de sucessão ao trono, já que seu pai era filho do imperador e não era o primogênito. Com a morte do avô, o filho mais velho, Fernando, subiu ao trono, mas o delicado momento político vivido pelo país produziu uma série de levantes e revoluções que culminaram com uma bem urdida trama que fez com que Fernando abdicasse ao trono em favor de seu sobrinho Franz, que tinha então dezoito anos.
Ele assumiu, então, um país repleto de problemas de toda espécie e foi gradativamente tratando de reconstruí-lo, por via de um governo ora bastante liberal, ora marcadamente ditatorial.
Aos vinte e quatro anos, quando a família preparava para ele uma noiva, na ocasião em que deveria conhecer a futura esposa, conheceu também a cunhada, irmã mais nova de sua prometida, Duquesa Elizabeth da Baviera, também conhecida por Sissi, e apaixonou-se por ela, provocando enorme confusão na corte, por sua insistência em desposá-la. A menina contava naquele momento apenas quinze anos.
Casaram-se apesar de todas as oposições e pouco após o casamento, a nova imperatriz começou a demonstrar sua incompatibilidade com a vida de rigoroso protocolo da corte de Viena. Posteriormente viria-se a descobrir que ela padecia de alguns transtornos graves que acabaram por marcar profundamente a vida conjugal de Franz.
A primeira filha do casal morreu com dois anos de idade. Tiveram mais três filhos, sendo duas meninas e um menino. As leis austríacas impediam que mulheres entrassem na linha de sucessão ao trono, por essa razão Franz passou a ter um único candidato a sucessor: seu filho, Rodolfo Francisco.
Na verdade, após o nascimento do menino, a mãe de Franz convenceu a imperatriz a não ter mais filhos, sob o argumento de que ela não era boa mãe para as crianças. A imperatriz se convenceu, mas naquele tempo a única forma de não ter mais filhos era a abstinência sexual, por isso a própria imperatriz se encarregou de arranjar uma amante para o marido, o que o deixou profundamente frustrado, visto que amava a esposa e desejava ter uma vida conjugal normal.
O imperador teve três irmãos. O mais velho, Maximiliano, foi executado pelas forças revolucionárias no México em 1867, O segundo, Carlos Luis, morreu de tifo em 1896 e o terceiro, o mais novo, foi exilado depois de ser flagrado mantendo relações homossexuais com um menino menor de idade.
Em 1889 seu filho, Rodolfo, suicidou-se em seu campo de caça, por força de uma desilusão amorosa. Com essa morte, o trono ficou sem herdeiro direto e os únicos candidatos eram os sobrinhos de Franz, filhos de seu irmão Carlos Luis. Dos três, apenas o Arquiduque Francisco Ferdinando reunia condições de assumir o trono, mas, alguns anos antes tivera sérios desentendimentos com o imperador, por ter insistido em se casar com uma mulher que Franz não considerava digna de entrar para a família. Mesmo assim, era o virtual e principal candidato à sucessão de Franz.
Em 1898, durante uma viagem à Suíça, a Imperatriz Elizabeth (Sissi) foi assassinada ao sair de um teatro. O imperador, naquela data, fez o seguinte comentário: “Em meu império, a desgraça parece não ter fim”.
Por ter vivido um momento de grande fomentação política na Europa, Franz Joseph foi, ao lado de Bismarck, um dos principais articuladores de uma intrincada rede de alianças políticas e militares que faziam com que o continente vivesse uma profunda instabilidade no âmbito das relações internacionais. Era como se a Europa estivesse constantemente assentada sobre um barril de pólvora.
Quando o imperador contava oitenta e quatro anos, tudo indicava que a escolha do sucessor do trono iria mesmo recair sobre Francisco Ferdinando, mas esse, mandado à Bósnia em visita oficial em nome do império, no dia 28 de junho de 1914, foi assassinado, juntamente com sua esposa Sofia, por um ativista sérvio, a serviço de uma organização terrorista que lutava pelos direitos das populações eslavas do Império Austro-Húngaro.
A Áustria exigiu satisfações e apresentou à Sérvia um ultimato exigindo que o governo sérvio adotasse uma série de medidas extremas, sob pena de uma guerra entre os dois países. Como a Sérvia se recusasse a aceitar os termos do ultimato, Franz não teve alternativa e no dia 28 de julho de 1914 declarou guerra à Sérvia.
Essa declaração de guerra deflagrou uma reação em cadeia ocasionada pela rede de alianças que o próprio Franz ajudara a construir e, por força dessa reação, eclodiu a Primeira Guerra Mundial, até então o mais violento e sanguinário conflito que o mundo já conhecera.
A guerra corroeu as já combalidas estruturas do Império Austro-Húngaro e a decadência do país coincidiu exatamente com a decadência do próprio Franz Joseph. No dia 21 de novembro de 1916, aos oitenta e seis anos, o imperador entregou a alma. O império entrou em colapso e no dia 3 de novembro de 1918 a Áustria e a Hungria assinaram a rendição em separado, demonstrando que a unidade já não existia mais.
A morte de Franz Joseph assinala o fim de uma dinastia, de um império e de uma era.
Ao longo de sua vida, chegou a ser um dos homens mais influentes do mundo; seu reinado foi o terceiro mais longo da Europa; nos limites do império, comandou os destinos de mais de sessenta milhões de pessoas; sua fortuna era incalculável. Mas teria sido um homem feliz?
Não teria ele em inúmeros momentos de sua tumultuada existência desejado ardentemente possuir um pouco de privacidade e desfrutar do calor da mulher amada, sentar no chão para brincar com seus filhos, ou tomar uma cerveja num café de Viena ao lado de amigos queridos?
A História de Franz pode perfeitamente ser usada como fator de reflexão para que muitos repensem seu ideal de felicidade. Para os meus moldes, ele não foi herói, nem vilão: foi uma infeliz vítima das mazelas de uma época decadente, além de um símbolo da dor intensa revestida de ouro.
Um desses casos em particular chama a atenção, pelo que tem de dramático, inusitado e curioso. É a História de um homem chamado Francisco José (Franz Joseph), Imperador da Áustria entre 1848 e 1916. Sua vida é marcada por uma sucessão de fatos trágicos que o levaram tanto ao trono como às mais duras provações. Seu lugar na História é assinalado por uma ambigüidade: tanto pode ser visto como herói, quanto como vilão.
Seu destino é interessante, pois, ao nascer, não estava na linha de sucessão ao trono, já que seu pai era filho do imperador e não era o primogênito. Com a morte do avô, o filho mais velho, Fernando, subiu ao trono, mas o delicado momento político vivido pelo país produziu uma série de levantes e revoluções que culminaram com uma bem urdida trama que fez com que Fernando abdicasse ao trono em favor de seu sobrinho Franz, que tinha então dezoito anos.
Ele assumiu, então, um país repleto de problemas de toda espécie e foi gradativamente tratando de reconstruí-lo, por via de um governo ora bastante liberal, ora marcadamente ditatorial.
Aos vinte e quatro anos, quando a família preparava para ele uma noiva, na ocasião em que deveria conhecer a futura esposa, conheceu também a cunhada, irmã mais nova de sua prometida, Duquesa Elizabeth da Baviera, também conhecida por Sissi, e apaixonou-se por ela, provocando enorme confusão na corte, por sua insistência em desposá-la. A menina contava naquele momento apenas quinze anos.
Casaram-se apesar de todas as oposições e pouco após o casamento, a nova imperatriz começou a demonstrar sua incompatibilidade com a vida de rigoroso protocolo da corte de Viena. Posteriormente viria-se a descobrir que ela padecia de alguns transtornos graves que acabaram por marcar profundamente a vida conjugal de Franz.
A primeira filha do casal morreu com dois anos de idade. Tiveram mais três filhos, sendo duas meninas e um menino. As leis austríacas impediam que mulheres entrassem na linha de sucessão ao trono, por essa razão Franz passou a ter um único candidato a sucessor: seu filho, Rodolfo Francisco.
Na verdade, após o nascimento do menino, a mãe de Franz convenceu a imperatriz a não ter mais filhos, sob o argumento de que ela não era boa mãe para as crianças. A imperatriz se convenceu, mas naquele tempo a única forma de não ter mais filhos era a abstinência sexual, por isso a própria imperatriz se encarregou de arranjar uma amante para o marido, o que o deixou profundamente frustrado, visto que amava a esposa e desejava ter uma vida conjugal normal.
O imperador teve três irmãos. O mais velho, Maximiliano, foi executado pelas forças revolucionárias no México em 1867, O segundo, Carlos Luis, morreu de tifo em 1896 e o terceiro, o mais novo, foi exilado depois de ser flagrado mantendo relações homossexuais com um menino menor de idade.
Em 1889 seu filho, Rodolfo, suicidou-se em seu campo de caça, por força de uma desilusão amorosa. Com essa morte, o trono ficou sem herdeiro direto e os únicos candidatos eram os sobrinhos de Franz, filhos de seu irmão Carlos Luis. Dos três, apenas o Arquiduque Francisco Ferdinando reunia condições de assumir o trono, mas, alguns anos antes tivera sérios desentendimentos com o imperador, por ter insistido em se casar com uma mulher que Franz não considerava digna de entrar para a família. Mesmo assim, era o virtual e principal candidato à sucessão de Franz.
Em 1898, durante uma viagem à Suíça, a Imperatriz Elizabeth (Sissi) foi assassinada ao sair de um teatro. O imperador, naquela data, fez o seguinte comentário: “Em meu império, a desgraça parece não ter fim”.
Por ter vivido um momento de grande fomentação política na Europa, Franz Joseph foi, ao lado de Bismarck, um dos principais articuladores de uma intrincada rede de alianças políticas e militares que faziam com que o continente vivesse uma profunda instabilidade no âmbito das relações internacionais. Era como se a Europa estivesse constantemente assentada sobre um barril de pólvora.
Quando o imperador contava oitenta e quatro anos, tudo indicava que a escolha do sucessor do trono iria mesmo recair sobre Francisco Ferdinando, mas esse, mandado à Bósnia em visita oficial em nome do império, no dia 28 de junho de 1914, foi assassinado, juntamente com sua esposa Sofia, por um ativista sérvio, a serviço de uma organização terrorista que lutava pelos direitos das populações eslavas do Império Austro-Húngaro.
A Áustria exigiu satisfações e apresentou à Sérvia um ultimato exigindo que o governo sérvio adotasse uma série de medidas extremas, sob pena de uma guerra entre os dois países. Como a Sérvia se recusasse a aceitar os termos do ultimato, Franz não teve alternativa e no dia 28 de julho de 1914 declarou guerra à Sérvia.
Essa declaração de guerra deflagrou uma reação em cadeia ocasionada pela rede de alianças que o próprio Franz ajudara a construir e, por força dessa reação, eclodiu a Primeira Guerra Mundial, até então o mais violento e sanguinário conflito que o mundo já conhecera.
A guerra corroeu as já combalidas estruturas do Império Austro-Húngaro e a decadência do país coincidiu exatamente com a decadência do próprio Franz Joseph. No dia 21 de novembro de 1916, aos oitenta e seis anos, o imperador entregou a alma. O império entrou em colapso e no dia 3 de novembro de 1918 a Áustria e a Hungria assinaram a rendição em separado, demonstrando que a unidade já não existia mais.
A morte de Franz Joseph assinala o fim de uma dinastia, de um império e de uma era.
Ao longo de sua vida, chegou a ser um dos homens mais influentes do mundo; seu reinado foi o terceiro mais longo da Europa; nos limites do império, comandou os destinos de mais de sessenta milhões de pessoas; sua fortuna era incalculável. Mas teria sido um homem feliz?
Não teria ele em inúmeros momentos de sua tumultuada existência desejado ardentemente possuir um pouco de privacidade e desfrutar do calor da mulher amada, sentar no chão para brincar com seus filhos, ou tomar uma cerveja num café de Viena ao lado de amigos queridos?
A História de Franz pode perfeitamente ser usada como fator de reflexão para que muitos repensem seu ideal de felicidade. Para os meus moldes, ele não foi herói, nem vilão: foi uma infeliz vítima das mazelas de uma época decadente, além de um símbolo da dor intensa revestida de ouro.
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