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Frases Célebres

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Seleção Brasileira????????

Eu até não ia tocar neste assunto, mas, depois da estreia da Seleção, eu não resisti: será impressão minha, ou realmente, a cada ano que passa, decresce o entusiasmo do povo com a Copa do Mundo?
Tenho certeza de que não é uma mera impressão. É fato. Basta andar pelas ruas; basta ver a carência de fogos no momento dos gols e a falta de grandes comemorações ao final de uma vitória.
No meu caso, o último ano em que torci de fato para o Brasil numa Copa foi 1986. naquele ano também amarguei a desclassificação naquela derrota para a França, com direito a pênalti desperdiçado pelo Zico, e outras coisas mais. Aquele foi também o último ano em que me lembro de haver visto um entusiasmo autêntico nas ruas. O entusiasmo está morrendo lentamente e, por certo, há fortes razões para que isso aconteça.
Não vou nem me deter sobre os fatores exógenos desse fenômeno. Vou apenas citar que existe, ainda que inconscientemente, uma certa crise de identidade nacional produzida por fatores políticos, sociais e econômicos.
Mas o fator endógeno, a meu ver, é preponderante nesse caso. O fato é que nossa Seleção vem passando, desde a Copa de 1990, por um processo vertiginoso de alienação. Isso mesmo, alienação, no exato sentido que Marx deu ao termo.
Sucede que, até 1986, quando era feita a convocação, todos ficavam ansiosos por ver se haveria algum jogador de seu time na lista dos convocados. Mesmo que não houvesse – até porque há times demais no Brasil – todos sabiam quem eram os escolhidos. Do goleiro ao ponta-esquerda, todo mundo sabia apontar o time em que os jogadores atuavam. E eles atuavam no Fluminense, no Vasco, no Palmeiras, no Botafogo, no São Paulo, no Santos, no Cruzeiro, no Grêmio, no Atlético, no Internacional, no Corinthians, ou em qualquer outro clube brasileiro. Esses jogadores eram verdadeiros representantes da paixão pelo clube, da paixão pelo esporte. Nós os víamos duas vezes por semana defendendo seus clubes nos campeonatos estaduais, ou no brasileirão. Quando a Seleção entrava em campo, tínhamos a sensação de que eram amigos nossos que ali estavam, defendendo o Brasil.
Hoje, quando o “escrete ‘nacional’” entra em campo, o que vemos é: goleiro – joga na Internazionale; zagueiros – jogam no Chelsea e no Bayern de Munique; laterais – jogam na Internazionale e no Barcelona; meio campistas – jogam no Manchester City, no Panathinaikos, no Milan e na Fiorentina; atacantes – jogam no Sevilha e no Manchester City. Que identificação temos com esses homens? Alguns deles já estão até falando português com sotaque e tomando whisky na feijoada.
Há muito não é uma seleção brasileira, é uma seleção das grandes empresas patrocinadoras ou detentoras dos direitos desses atletas. O povão, embora não perceba claramente esse fato, sente esse distanciamento, esse alheamento, essa falta de intimidade. Torcer pela seleção hoje é como transar com a prostituta: satisfaz o instinto, mas não preenche, não acolhe, não emociona, não apaixona, como quando se transa com a mulher amada.
Essa alienação também se faz sentir dentro de campo, com o time jogando burocraticamente, quase protocolarmente, cumprindo um compromisso, sem aquele calor, sem aquela emoção autêntica, afinal, para eles, vestir a camisa da Seleção Brasileira é apenas vestir uma camisa amarela. Para muitos, a única coisa que ainda lembra o Brasil é o passaporte, que alguns desejam ardentemente trocar por um da União Europeia.
Triste realidade! Por essas e outras vimos na terça-feira, dia 15, o “nosso” futebol, o melhor, o mais artístico do mundo, vencer de forma tão convincente, pelo duro placar de 2 X 1 a gloriosa e tradicional Seleção da Coreia do Norte.

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