A ilusão é uma das mais humanas construções. Seguimos pela vida construindo conceitos personalíssimos sobre coisas e pessoas. Na maior parte das vezes norteamos nosso comportamento, nossas ações por esses conceitos que construímos e não pelo referente objetivo. Acontece que nossos conceitos são uma mera projeção da realidade, baseada em nosso próprio modo de ver a vida. Pessoas e coisas não são o que projetamos; são o que são.
Por consequência disso, chega sempre um dia em que algum acontecimento, às vezes incidental, nos leva a confrontar nosso conceito com seu referente. E a verdade emerge fria e inflexível. O efeito inevitável é sempre a decepção e, muitas vezes a revolta que, embora não o admitamos, deveria ser dirigida contra nós mesmos por nosso erro de avaliação e não contra o objeto de nossa decepção.
O edifício que desaba sob o vento da verdade estava construído sobre alicerces podres. Por maior que seja o esmagamento resultante desse desabamento, é necessário saber recomeçar. É preciso juntar os cacos do que sobrou e com eles reerguer novo edifício, menos suntuoso talvez, menos vistoso talvez, menos monumental talvez, porém sólido.
E não tenham dúvidas: a verdade tem sempre um efeito saneador e libertário. Sim, porque quando construímos elegantes edifícios conceituais, muitas vezes nos escravizamos a eles durante muito tempo. Quando eles desabam, sentimo-nos angustiados, mas também nos sentimos libertos da argamassa de ilusões que o sustentava e que, quase sempre, nos emparedava.
Por mais que eu deteste o discurso religioso de qualquer espécie, devo mais uma vez render tributo à inteligência de Jesus, quando disse: "conhecereis a verdade e ela vos libertará". Hoje entendo que essa máxima não se aplica somente a um contexto religioso, mas também e principalmente ao nosso crescimento como pessoas.
Quando conhecemos a verdade, por pior que ela seja, rompemos os grilhões da ilusão e, cada vez mais aprendemos a deixar de sermos escravos de nossas construções pueris, para nos tornarmos senhores de nossos destinos.
Sigamos aprendendo e que a verdade nos seja redentora.
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