Eis aqui uma coisa realmente bastante curiosa: desde pequeno, lá em Uberaba, acostumei-me a, todas as vezes que queria alguma coisa que não me seria concedida, ouvir a expressão "pode tirar o cavalo da chuva". Isso significava: pode desistir, você não vai conseguir o que está querendo. A expressão, portanto, tinha um sentido de negação do consentimento para alguma coisa.
Recentemente, contudo, ao fazer algumas pesquisas de expressões curiosas, descobri o sentido original dessa expressão e descobri que, ao longo da História, sua significação foi diametralmente alterada, assim como aconteceu com algumas outras de que ainda falaremos aqui. A expressão em questão data do tempo do império e estava ligada aos códigos de etiqueta social vigentes àquela época. Sucede que, num tempo em que não havia telefones, o principal meio de comunicação entre as pessoas era a presença física, o tete-a-tete, por isso as visitas sociais eram muito constantes, amigos se visitavam mutuamente com uma regularidade bem maior que a que vemos nos dias de hoje.
Lembremo-nos também de que não havia carros, metrôs ou ônibus e que o principal meio de transporte era o cavalo, ou os veículos puxados a cavalo. Por essa razão, as residências possuiam em sua frente um obelisco destinado a que os visitantes amarrassem seus animais, quando chegassem para uma visita. Esse obelisco ficava ao ar livre, ao relento e, no caso de a visita ser demorada, caso viesse a chover, o cavalo ficaria muito molhado, o que não era bom nem para ele, cavalo, nem para o dono que iria montá-los depois. Por essa razão, as residências costumavam possuir também, na área dos fundos, áreas cobertas e mais confortáveis para a guarda dos animais dos visitantes. Essa área, contudo, carecia da autorização do dono da casa para ser utilizada e era em cima disso que se assentava a regra de etiqueta:
Ao chegar para uma visita, o visitante inicialmente amarrava seu cavalo no obelisco em frente à casa, ao relento. Aí, então, ele entrava e sua presença era anunciada ao dono da casa. Caso esse se sentisse feliz com a visita, caso ela acontecesse em momento oportuno e fosse agradável, o dono da casa, depois de cumprimentar o visitante e de trocar algumas palavras para quebrar o gelo, dizia ao visitante: "vai lá, pode tirar o cavalo da chuva".
Essas palavras eram a senha para informar que a visita era bem vinda e que o visitante poderia se sentir à vontade e prolongar sua estadia.
Caso não fossem pronunciadas, contudo, o visitante já saberia que a visita era inoportuna e que deveria procurar abreviá-la ao máximo, pois sua presença não era bem vinda, pelo menos naquele momento.
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